Estudo da UTAD procura respostas para a recaída de toxicodependentes em tratamento

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Procurar as causas que conduzem à recaída em dependentes de heroína e também as que facilitam a manutenção da abstinência é o objetivo de um estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), orientado por Vasconcelos Raposo, docente e investigador do Departamento de Educação e Psicologia.
Este estudo, que deu azo a um projeto de mestrado em Psicologia Clínica de Rui Alexandre da Silva Alves, intitulado “Fatores influentes nos processos de abstinência e recaída: perceções de (ex)consumidores de heroína”, incidiu numa Comunidade Terapêutica (CT) e num Centro de Respostas Integradas (CRI) do norte do país, cumprindo um trabalho de campo que acompanhou indivíduos com problemas de drogas, maioritariamente entre os 25 e os 48 anos.
Conhecidos os resultados do estudo, confirma-se que entre os fatores que pesam na manutenção da recuperação e abstinência de uso de heroína, destaca-se a pertença ao grupo de ajuda Narcóticos Anónimos, conjugada com mudanças comportamentais, alcance de um novo modo de vida, ocupação laboral e pós-laboral e existência de uma rede significativa de apoio social.
Por outro lado, constata-se também que para a recaída, os sujeitos apresentam uma variedade de fatores e razões que atuam simultaneamente, sobressaindo a inadequação social, desemprego, problemas financeiros, escolha de companhias, consumo de álcool, falta de controle de uso de substâncias psicoactivas quando em tratamento de substituição, dificuldade em lidar com sentimentos e com adversidades e estados emocionais negativos. “Comecei a usar drogas como forma de fugir à minha realidade – testemunha uma das entrevistadas no estudo. – Eu era tímida, complexada, e sentia-me discriminada pelo facto de ser gordinha. Portanto, quando consumia, ficava desinibida e de certa maneira isso fazia-me sentir bem”.
Vasconcelos Raposo reconhece a necessidade de reforçar o conhecimento nestes domínios, porquanto “o crescimento do uso de drogas ilícitas ao longo dos tempos requere o ajustamento de intervenções e de planeamentos terapêuticos de forma a melhor a sua eficácia”. Quanto à prevenção, segundo o investigador, “importa apostar cada vez mais em políticas que levem à criação de condições de vida que preservem a dignidade humana, em especial numa sociedade como a nossa em que as desigualdades sociais são cada vez maiores, e onde ter emprego se constitui como fator preponderante para se ter a estabilidade necessária à prevenção e à recuperação”.

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