“Os refugiados só nos pedem que sejamos amigos” , diz Joana Gomes

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Joana Gomes tem 27 anos e é natural de Lisboa. Esteve nas palestras TALK TO ME da OFICINA – Escola Profissional do INA para nos falar da sua experiência de voluntária no campo de refugiados de Canicarao, na Sicília.  A voluntária confessa que o momento mais emocionante foi a despedida. “Criámos uma relação muito forte com eles. Sentimos que eles confiavam em nós.”

Qual é o segredo para manter uma boa relação com um refugiado?

É sobretudo a disponibilidade para quer conhecer o outro. Penso que muitas vezes vamos ter com outra pessoa muito certos daquilo que é verdade ou mentira, correto ou incorreto. Considero que quando vamos conhecer alguém que vem de um contexto tão diferente do nosso e que passou por uma realidade tão dura como a de um refugiado, é preciso ter muita abertura para querer conhecer o outro tal como ele é e não como estamos à espera que ele seja.

Quando chegou ao campo de refugiados o que lhe chamou mais a atenção?

O campo que eu conheci não é um campo como estamos habituados a ver e a imaginar. Não tem tendas. É uma casa que acolhe homens e naquele caso concreto de Canicarao, na Sicília, o que mais me chamou a atenção foi a alegria do espaço. É uma casa que era um agroturismo. Era uma casa muito bonita no meio da montanha. Apesar de deslocados das suas famílias, o espaço era povoado de alegria.

O que é que normalmente um refugiado pede quando vê um voluntário?

Não pedem nada. Somos nós próprios que queremos dar alguma coisa, mas não pedem nada e no fundo quando voltei trouxe muita certeza de que a única coisa que eles nos pedem é que sejamos amigos deles.

Qual foi o momento mais emocionante no campo?

Foi sem dúvida a despedida. Chorei imenso e no regresso já no carro a caminho do aeroporto só pensava que se o carro parasse eu saía de lá e corria para o pé deles de novo e já não voltava para Portugal (risos). Criámos uma relação muito forte com eles. Sentimos que eles confiavam em nós e que não diziam as coisas para nos agradar. Eles diziam-nas porque de facto sentiam as coisas.

 

Sente-se mais realizada por ajudar os refugiados?

Não sei se mais realizada. Sinto que tive o privilégio de conhecer pessoas tão valiosas e tão boas e isso é uma mais-valia para a minha vida. Ensinou-me a dar valor ao que tenho e fez-me estar mais alerta para o quanto ainda é preciso fazer por este mundo.

Qual é o seu sonho?

O meu sonho, penso que o vosso também, é ser feliz todos os dias.

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