Artigo de Opinião… por Vítor Pinheiro emigrante na Suíça

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O Mito Urbano existia, mas emigrou…

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Lembro-me bem do mês em que o nosso primeiro-ministro aconselhou professores Portugueses a procurar nos mercados da Lusofonia uma alternativa para continuarem a ensinar, já que infelizmente o nosso mercado interno, em crise económica e demográfica, não iria permitir alternativas. Não foi um apelo directo â emigração generalizada, mas o público entendeu-o como tal, e agora passado 4 anos, perto de eleições tornou-se num Mito Urbano.

A mensagem mais forte que fica é a ulterior, escondida, a percepcionada subjectivamente pelo público. Acho que o tema da emigração é uma oportunidade para colectivamente pensar no nosso futuro. É um fenómeno transversal a sociedade Portuguesa independentemente de classes sociais ou orientações políticas.

No período em que o Mito Urbano nasceu eu estava desempregado, como outros milhares de Jovens Portugueses, os mestrados onde era professor convidado não abriram, e a empresa onde trabalhava estava em reestruturação.

Não tive a honra de ter assistido ao 25 de Abril, mas já fiquei diversas vezes desempregado e vi na televisão um Presidente da República a içar a bandeira da nossa nação ao contrário, facto único e histórico do nosso país, o que em termos militares significa o inimigo tomou o nosso castelo… Ou seja o FMI chegou… está cá dentro. Hoje a guerra se calhar é económica e financeira, os maus são os banqueiros, os políticos comprados e o povo é escravizado pela máquina fiscal até pagar o que deve um país.

A interpretação que me está viva na memória do comentário que o nosso primeiro ministro fez então, foi para mim uma alerta para a navegação, e uma confirmação para mim que as coisas iriam complicar-se ainda muito mais e que era necessário procurar alternativas para mim e para a minha família fora da minha zona de conforto. Tempo veio a dar razão com o subsequente colapso do BPN, BPP, BCP…. BES… e outras situações complicadas para todos nós. O facto é que realmente Portugal empobreceu, pelo que vejo, os meus filhos contam do que observam de outras famílias na escola, das notícias que acompanho de Portugal cá fora.

Primeiramente emigrei para São Paulo, Brasil, e depois para Basileia (Suíça) onde continuo a seguir o meu trajecto profissional. Como contributo ao meu país, dou todos os anos um seminário gratuito, sobre o que significa uma pessoa internacionalizar-se, emigrar, para que os jovens compreendam os riscos e oportunidades a que essa decisão obriga. No ano passado dei esse seminário numa escola privada em Riba D’Ave, este ano vai ser uma escola privada em Santo Tirso. Fiquei surpreso em testemunhar a quantidade de jovens que acreditam no Mito Urbano e que mais de 70% querem realmente emigrar quando terminarem os seus estudos.

Assusta-me ver que os jovens não acreditam no seu próprio país e estejam em standby para o take-off do avião. Dá-me mais vontade e motivação para chamar a atenção para a importância de uma cultura empreendedora, de risco, de inovação, de aprender com os erros e da importância de erguer a cabeça após a queda. Essa cultura tem que começar já, não tem período de carência ou espera. Claro que não tenho muita credibilidade porque eu próprio emigrei e não fiquei, mas um dia vou voltar, e quero viver numa país de sucesso e futuro, e esse futuro depende dos jovens e de nós.

O tema da emigração, devia ser uma grande oportunidade de conversa do nosso primeiro-ministro com a juventude, o país, as empresas e os Portugueses espalhadas pelo mundo, porque é o futuro do nosso país está em risco. Dados demográficos apontam para o facto de em 2050 Portugal deixar de ter massa crítica no contexto Europeu. Podemos entrar em colapso porque não somos auto-sustentáveis, dívidas a mais, riqueza a menos, população envelhecida, emigração espalhada no mundo que não quer voltar as origens.

Israel, que é um país rodeado de inimigos e adversidades, tem uma taxa elevada de emigração, tem também tido crescimento económico com base na sua rede de emigrantes pelo mundo fora e das oportunidades que lhes oferece esse networking, um fluxo constante em saídas e entradas de gente que acaba por construir o seu país, criar novas indústrias.

O nosso Presidente da República tem tentado através de diversas iniciativas chamar a atenção da importância dos emigrantes pelo mundo e da importância que eles têm para o nosso país. Os prémios COTEC foram a mais recente iniciativa premiando empresários Portugueses pelo mundo fora.

Daí que a emigração é um tema relevante para o futuro do país. Muitos emigrantes depositaram o dinheiro das suas vidas em bancos Portugueses que faliram, muitos jovens qualificados emigraram após ter terminados cursos com distinção em universidades Portuguesas, há que desenvolver uma nova atitude face ao tema, e acima de todo criar um clima de paz que permita de uma forma clara e honesta falar sobre o futuro do nosso país. Não faz sentido, criar Mitos Urbanos ou perder tempo com eles.

Corremos o risco de um dia o mito urbano ter existido, mas emigrou, porque Portugal deixou ser um país relevante no contexto europeu. Acabamos por perder a oportunidade de fazer porque os outros criticam, ficamos paralisados a não fazer nada com medo do dia em que alguém há-de chegar e oferecer um futuro cor-de-rosa.

O futuro Cor-de-rosa é que é realmente um Mito Urbano, até o dia em que o Presidente da República terá que içar novamente a bandeira de Portugal ao contrário.

Vítor Pinheiro

Emigrante na Suíça

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