Não são os indecisos que decidem as eleições

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Não são os indecisos que decidem as eleições. Quem o diz é um homem dos estudos de opinião. Rui Oliveira e Costa, responsável pela empresa Eurosondagem desde 1996, reconhecem que “os partidos olham para os 20 a 25% de indecisos dos estudos de opinião e entendem que é aí que podem aumentar a sua quota”. Estão errados. “É mentira. O mais provável é que esses indecisos contribuam para engrossar a abstenção”, defende o também comentador desportivo. E dá uma dica: “Quem sempre decidiu o poder em Portugal foi o eleitorado flutuante”. Andarão os partidos a fazer pontaria ao alvo errado?

Mais uma vez, a conclusão é que este eleitorado flutuante, incluído numa fatia mais vasta de indecisos, é quem realmente faz ganhar ou perder eleições. “É para estes que os partidos devem falar, sobretudo nos dois últimos meses da pré-campanha e da campanha, altura em que 8 a 10% dos eleitores decidem o seu voto, de acordo com estudos existentes”, continua o social-democrata. Para esses, há duas opções: PS ou PSD.

Assim se explica que, subitamente, em plena pré-campanha, António Costa tenha dito, em entrevista ao Sol: “Há identidade entre mim e a Manuela Ferreira Leite”. Neste caso, Costa faz pontaria aos eleitores sociais-democratas para quem Pedro Passos Coelho não serve, seja por acharem que é demasiado liberal ou por entenderem que as suas soluções para a governação já estão esgotadas.
Mas ao mesmo tempo que admite incluir Ferreira Leite no seu futuro Governo, o socialista diz: “Bloco Central? Só numa invasão de marcianos…” Com esta frase, o líder do PS quer mostrar que não é a mesma coisa votar no PS ou na coligação.
Além disso, Costa também ‘enviou’ uma carta aos eleitores indecisos para sublinhar a importância das eleições legislativas de ?4 de outubro. “É possível fazer diferente e fazer melhor”, lê-se na missiva publicada no ‘site’ da candidatura. “Proponho-vos que mantenhamos aqui esta conversa, que será feita em vários capítulos, durante os próximos dias”, escreveu.

Os debates frente a frente são, para Oliveira e Costa, uma forma eficaz de ‘entrar’ neste eleitorado que flutua, mas que é menos abstencionista que os indecisos, mais urbano e litoral, lê jornais e não tem uma grande identificação partidária.

Por todas estas razões, o investigador do IPRI assume que “o impacto das variáveis associadas às campanhas é relativamente fraco” junto deste grupo. Moita de Deus concorda: “Já há alguns anos que não se ganham eleições com promessas. No final do dia, o fator preponderante é a rejeição a um candidato ou a um partido, como aconteceu com José Sócrates, em 2011”.
É o mesmo que dizer que não foi Passos Coelho que ganhou as eleições, mas Sócrates que as perdeu.

“Fazendo o paralelismo para os produtos, o que funciona melhor é a recomendação de um par, alguém que diz: ‘olha, eu experimentei isto e gostei’. As redes sociais ganham importância por isso. Não têm intermediários, são diretas. É uma espécie de regresso às origens da comunicação”, diz o social-democrata.
Os partidos perceberam o potencial desta espécie de “eu recomendo no Facebook, tu votas nas eleições” e apostam fortemente nas novas tecnologias para fazer passar a sua mensagem.

Analisando os resultados das legislativas desde 1976, é possível chegar a um número que constituiu o núcleo duro dos cinco principais partidos, ou seja, a percentagem mínima de votos que cada um já obteve. Ei-la: 20,77% (PS em 1985); 24,38% (PSD em 1976); 4,43% (CDS em 1991), 6,94% (CDU em 2002) e 2,44% (Bloco de Esquerda em 1999). Feitas as contas, estes valores totalizam 58,96% dos votos, deixando uma margem larga para votos brancos, nulos e abstenção. Pelo contrário, o recorde de votos do PS foi obtido por José Sócrates em 2005 (45,03%) e o do PSD foi conquistado por Cavaco Silva, em 1991 (50,60%). Entre os núcleos duros dos partidos e os seus melhores resultados, há oscilações entre os 25 e os 30%. Mas isso não chega para calcular o valor dos flutuantes. A fórmula mais correta para determinar quantos flutuam ao centro é usar os números absolutos em cada uma das eleições. E assim sendo, os melhores e os piores resultados do PS e do PSD são separados por 1,3 milhões de votantes, no caso do PS; e 1,5 milhões no caso do PSD. Assustador?

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