Cada vez mais nos deparamos com uma maior consciencialização sobre a importância de uma alimentação saudável, contudo surgem casos em que as recomendações alimentares são seguidas ao extremo e em que a procura por uma alimentação mais saudável e pura pode já ser considerada um distúrbio psicológico ou mesmo físico.
De acordo com Ana Rita Lopes, coordenadora da Unidade de Nutrição Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa: “a obsessão com a prática de uma alimentação saudável é considerada um transtorno alimentar, ao qual se dá o nome de ortorexia nervosa. O termo deriva da palavra grega “orthos”, que significa correto e da palavra “orexia”, que significa apetite”.
A ortorexia nervosa caracteriza-se por uma obsessão patológica com uma nutrição adequada, por uma dieta restritiva e por uma rejeição rígida de alimentos julgados não saudáveis, com o objetivo de atingir uma saúde ideal, prevenir doenças ou alcançar a imagem corporal desejada.
“Apesar de a ortorexia nervosa não ser ainda considerada uma doença do comportamento alimentar, tal como a anorexia e bulimia nervosas, têm surgido cada vez mais estudos que a aproximam dessas doenças psiquiátricas. Esta preocupação desmesurada com a alimentação, leva a que estes indivíduos dediquem cada vez mais tempo a planear as suas refeições e menos tempo ao lazer, podendo ter um impacto negativo na sua vida social”, acrescenta a especialista.
Em termos epidemiológicos, estudos recentes sugerem uma prevalência de 6,9 por cento na população em geral e entre 35 a 57 por cento em grupos de alto risco, como profissionais de saúde, desportistas e artistas.
Para a nutricionista clínica, o problema começa quando a pessoa: “não se permite ingerir um alimento julgado “menos saudável” ou sente tristeza por ingerir esse alimento, fica ansiosa por não poder cumprir as refeições planeadas, só realiza refeições em casa, contabiliza todas as calorias e nutrientes ingeridos, analisa ao pormenor todos os rótulos e isola-se para poder consumir apenas os alimentos saudáveis”.
“Os estudos mais atuais sugerem que a ortorexia pode ser tratada em equipa, pois para além do apoio de um dietista/nutricionista para desmistificar ideias e orientar em termos alimentares, é fundamental procurar apoio psicológico”, conclui a nutricionista.