José Pacheco no Brasil

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No lançamento da edição portuguesa do livro “A Escola que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir”, o autor, Rubem Alves convidou alguns educadores para acompanhá-lo e fazer um estágio na Escola da Ponte, Vila das Aves, Portugal. Fui uma das convidadas e participei desta experiência tão marcante! Muito vi e aprendi. Foi lá que conheci o Professor José Pacheco, diretor e principal idealizador daquele sonho. Era mês de abril, e “calhou” de estarmos lá no dia 25, na comemoração da Revolução dos Cravos. Um dos momentos inesquecíveis, depois de um delicioso jantar oferecido pela equipa da escola, foi ouvir o Zé (como o grande educador prefere ser chamado) tocar guitarra portuguesa e cantar emocionado “Grândola, vila morena” (canção símbolo da revolução portuguesa). Tive a oportunidade de encontrá-lo outras vezes aqui no Brasil, em uma delas fui buscá-lo na Unesp de Araraquara para uma palestra na escola em que eu trabalhava. No caminho até Rio Preto, contou-nos um pouco da sua infância de menino carente. Morou em um cortiço e sofreu abusos (não especificou o quê, e apesar da minha enorme curiosidade, tive a capacidade de me conter e não perguntar de que tipo). Ele afirmou: “Sou um resiliente, por ter sobrevivido não me tornando um bandido”. Entre outros detalhes relatou como foi importante para este processo de resiliência ter tido a sorte de ser vizinho de um senhor bem idoso e culto, que lhe emprestava livros, conversava com ele e o incentivava a gostar de música. Ou seja, encontrou um mentor – que é uma das características chaves para o desenvolvimento da capacidade de superar grandes pressões e ainda sair fortalecido. Sabendo bem o que é sofrer, tendo vivido na pele a importância do apoio, do respeito e da boa instrução, hoje este ex-menino pobre é um dos principais nomes da educação em Portugal, no Brasil o seu trabalho na Escola da Ponte é uma referência internacional. Depois de se aposentar na Escola da Ponte, mudou-se para nosso país, faz palestra e inspira educadores por todo o lado. Entre outros trabalha no Projeto Âncora, em Cotia. Domingo dia 5 de maio, foi entrevistado no programa da Regina Casé. Desde a série “Um Pé de quê”, sou fã da apresentadora, fiquei feliz ao vê-lo falar para um canal de grande audiência. Mesmo de maneira rápida e simples ele tocou em pontos importantíssimos, que procuro aqui reproduzir. Disse que por muitas razões estamos numa terra privilegiada, que poderia enumerar mais de 100 projetos educacionais importantíssimos acontecendo pelo país. Mas… o Brasil padece de algumas síndromes: a Síndrome do Pensamento Único – achar que só existe uma maneira de resolver as coisas. Síndrome do Viralata – tudo o que é bom vem do estrangeiro e a Síndrome da Gabriela – “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim…” Encerra dizendo “É preciso que o Brasil mude e que mude para melhor”. Podemos aproveitar a inspiração que este homem traz e perguntar: E eu quero mesmo que o país mude? Será que mudanças sempre têm que vir “do governo”? O que eu, “no meu quadrado” posso contribuir para esta mudança?

 

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